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updated 11:43 AM UTC, Feb 23, 2024
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ESTEJA ATENTO: a Plural&Singular faz 10 anos e vai lançar a 28.ª edição da revista digital semestral que dá voz às questões da deficiência e inclusão

A música é muito mais que um instrumento terapêutico

Com o Festival Internacional de Guitarra de Guimarães 2016 à porta - começa a 22 de dezembro - a Plural&Singular publica no site a história do Paulo, um jovem com autismo que encontrou na música uma forma de comunicar com o mundo.  

Esta é uma história sobre o poder da música. Fala sobre um jovem com autismo que encontrou na música uma forma de comunicar com o mundo. Fala de uma mãe que nunca desistiu de encontrar um caminho para ajudar o filho. Fala também de uma terapeuta da fala que a acompanha nesse percurso, dos professores de piano e de guitarra que aceitaram o desafio de dar aulas ao Paulo e, mesmo sem falar delas, fala de todas as pessoas que fazem parte da vida dele.

Texto: Sofia Pires

Fotos: Gentilmente cedidas

 

O Paulo e a música

Provavelmente se o Paulo não tivesse um piano em casa, “à mão de semear”, agora, aos 16 anos, não estaria a ter aulas de guitarra no Conservatório de Música de Felgueiras. Não fosse o piano da irmã e a mãe nunca teria percebido a vocação que apresentava para a música. Aprendeu tudo sozinho, portanto, pode-se considerar um autodidata. Mas Conceição Ferreira, a mãe, entendeu que fazia sentido investir no desenvolvimento desta competência artística e decidiu acompanhá-lo nas aulas particulares de piano. “Ele ouve uma música e toca automaticamente. Então pensei que seria bom que ele lesse uma pauta e eu também comecei a aprender, porque vi na música mais uma linguagem para ter com ele”, explica a mãe do Paulo. 

Com mais três filhos e uma vida bastante ocupada, Conceição Ferreira não tinha tempo para praticar e, como tal, não conseguiu acompanhar os progressos do filho. “E eu bem queria estudar, porque música é estudo. O tempo foi passando e ele começou a avançar muito e eu, este ano, disse à professora que achava que o estava a prejudicar”, conta. Conceição Ferreira optou por abdicar das lições, mas decidiu apostar ainda mais na aprendizagem do filho e conseguiu que o Paulo complementasse as aulas de piano com aulas de guitarra clássica. 

Ana Luísa Silva é terapeuta da fala e acompanha o Paulo há 10 anos. Diz que a capacidade de aprendizagem de uma criança autista “vai depender da capacidade de interação e de comunicação” e “dos défices de motricidade global e, muitas das vezes, de motricidade fina” que apresentam. Mas uma criança autista “pode ser boa em qualquer área desde que essa área seja também do seu interesse, um interesse muito vincado”. 

“No caso do Paulo não é só ouvir música, é o tocar que implica uma série de competências muito diferentes. Eu, por exemplo, não conseguiria tocar piano da maneira que ele toca, nem de tirar as músicas de ouvido como ele faz e isso implica algum nível de abstração e está relacionado com esse interesse”, explica.

Olhando para a realidade que tão bem conhece, a terapeuta da fala afirma que “quase todas as crianças com autismo gostam de música”. Por isso, muitas das vezes a música é uma excelente aliada em contexto terapêutico, servindo “como uma forma de relaxamento”, ou sendo “utilizada como uma forma de adquirir outras competências, por exemplo, associar uma determinada ação a uma música”. “Quando vai lavar os dentes usar uma música que fale sobre lavar os dentes”, exemplifica. 

“E até os miúdos que não usam praticamente a fala, começam muitas vezes a repetir essas músicas em contexto adequado. E a música acaba por ser uma forma deles começarem a comunicar aquilo que vão fazer”, completa.

“Neste momento o Paulo também foi evoluindo no sentido dessa área já não ser nem só de lazer, nem terapêutica, mas é no fundo uma área de estudo para ele. Porque realmente já é uma competência bastante avançada, na minha opinião.” Terapeuta da fala, Ana Luísa Silva 

O Paulo, a música, a interação, a comunicação e o Festival Internacional de Guitarra de Guimarães 2016

Há 16 anos atrás Conceição Ferreira conheceu o universo das perturbações do espetro do autismo. Quando o Paulo nasceu, a mãe, desde logo, notou que algo não estava bem, mas o pediatra considerava tudo normal. “Eu já tinha tido a minha filha e a dar de mamar era muito diferente, o Paulinho sugava-me, não olhava para mim. Ele não nos ligava e depois de repente ria-se sozinho. A gente falava e parecia que não ouvia. Tudo isso não era normal. O tempo foi passando e o primeiro teste que eu fiz foi auditivo. Depois foi uma procura e um dia li um artigo numa revista e eu disse ‘este é o meu filho’. Nunca tinha ouvido falar disso”, lembra. 

Olhando para trás, assume que andou muito tempo à procura de um salvador. “Não há salvadores para nada”, descobriu. Esta é uma doença cansativa e desgastante” – um desabafo que logo interrompe para afirmar: “Não gosto de falar do lado negativo desta doença porque não se pode olhar para aí”.

“Não é fácil, mas anda tudo a aprender, não se sabe nada ainda. Se for a um congresso sobre autismo, não há respostas. Mas se eu encontrasse alguém que tivesse um bebé pequenino acho que aconselhava a fazerem intervenção precoce e intensiva. Uma vez por semana, isso não faz nada. Tudo é pouco. E outra coisa: é importante fazer perceber aos pais que eles também têm poder sobre aquela doença”. Conceição Ferreira

A mãe do Paulo frequentou, em 2011, a primeira formação de apresentação do Programa Son-rise em Portugal e considera que, embora de uma forma informal e ingénua, desde sempre aplicou estes princípios para lidar com o filho. “É o método do amor, do amor verdadeiro. Luta-se, aceita-se, compreende-se e tem que se encontrar mecanismos para ajudar. Isso não é fácil, é muito difícil”, explica. Conceição Ferreira acredita que este é o caminho para se observar melhorias e entende que vale a pena insistir. “A mãe do Paulo é uma pessoa muito atenta e muito empenhada. É a pessoa que mais o ajuda, ela funciona, não só como mãe, mas também como terapeuta e professora do Paulo”, refere Ana Luísa Silva. 

As expetativas são elevadas em relação ao Paulo. Mas poderiam ter outro grau? “Se ela [Conceição Ferreira] não tivesse essas expetativas também não se empenharia tanto. Se ela achasse que o Paulo era um caso perdido, o Paulo nunca conseguiria aquilo que é capaz hoje em dia porque ela já teria desistido”, avalia a terapeuta da fala. LER PEÇA COMPLETA A PARTIR DA PÁGINA 25 DA 17.ª EDIÇÃO DA PLURAL&SINGULAR

 

Festival Internacional de Guitarra de Guimarães 2016

Onde se encontra a música ao serviço da inclusão

 
Em conversa com o diretor artístico do Festival Internacional de Guitarra de Guimarães, Nuno Cachada, a Plural&Singular ficou a conhecer as novidades do programa da edição de 2016 deste evento que decorre de 22 a 30 de dezembro, em Guimarães. 

Plural&Singular (P&S) – Quais são as novidades, de uma forma geral, em relação à programação e outros aspetos relevantes para o público? 

Nuno Cachada (NC) – O FIGG 2016 mantém o formato de sucesso do ano de 2015, concertos, masterclasses, concurso internacional e ciclo de conferências. O festival começará este ano mais cedo com o Ciclo de Conferências, que foi antecipado para o dia 22 de dezembro de forma a dar-lhe um pouco mais de visibilidade e de permitir que todos possam participar sem colidir com os horários das restantes atividades. No que diz respeito à oferta formativa, resolvemos aumentar o número de masterclasses de duas para três. O Concurso Internacional de Guitarra “Cidade de Guimarães” ganhou também uma nova categoria até 8 anos de idade. Paralelamente às suas rubricas dominantes, a edição de 2016 apoia também a realização de outros eventos tais como partidas simultâneas de xadrez com mestres nacionais, um torneio de xadrez e a discussão de variados temas como o ambiente, atividades alicerçadas em várias parcerias com universidades e associações e contando com vários apoios.

P&S - Quais são as expetativas para esta edição?

NC - À semelhança dos anos transatos, esperamos uma forte adesão não só no contexto formativo, mas também ao nível do público para os concertos. Esperamos atingir não só o público especializado no instrumento, mas também o público em geral. LER PEÇA COMPLETA A PARTIR DA PÁGINA 25 DA 17.ª EDIÇÃO DA PLURAL&SINGULAR

 

 

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