As imagens e as histórias do projeto Accept_ability
- Escrito por Sofia Pires
- Publicado em Portugal
O Nuno Pereira apresentou publicamente as primeiras três fotografias do projeto Accept_ability ao participar na 3.ª edição do concurso de fotografia “A inclusão na diversidade”, lançado em 2014 pela Plural&Singular, em parceria com o Centro Português de Fotografia (CPF).
Ao fazê-lo arrecadou o 1.º prémio e tem uma das fotografias em exposição no CPF. Aí, teve o reconhecimento de três pessoas – a técnica do CPF, Sónia Silva, o fotojornalista do Público, Paulo Pimenta e o juiz Álvaro Laborinho Lúcio - mas foi depois de colocar o projeto completo no Facebook que começou a receber o feedback de muitas mais que não ficaram indiferentes à qualidade das imagens e às histórias que elas contam.
O projecto Accept_ability é um projeto que retrata a aceitação da diferença e, segundo o fotógrafo Nuno Pereira, está a tomar umas proporções inesperadas: soma quase 1000 gostos e já conta com mais de 500 partilhas e tem vindo a chamar a atenção dos órgãos de comunicação social.
A particularidade deste projeto é que, além de retratar pessoas portadoras de alterações físicas visíveis, também chama a atenção para outras patologias menos evidentes e portanto apresenta imagens de pessoas com autismo, bipolaridade ou depressão. “Essa grande fatia da população que a sociedade ignora por ter um problema implícito”, refere o fotógrafo na apresentação do projeto. À medida que o projeto avançava, mais histórias surgiram e “tornou-se importante mostrar como os participantes encaram o seu Eu”. “Cada um deles teve, em algum ponto da sua vida, de aprender a viver de novo. Por doença ou acidente, viram a sua rotina e imagem alteradas, tendo de completar o mais difícil dos exercícios: aceitar-se a si mesmos”, refere Nuno Pereira.
As fotografias falam por si, e valem mais que mil palavras, “mas seria injusto omitir as histórias” e ao acrescentar-lhes a dimensão das palavras, ganham a força das pessoas retratadas que “sabem viver com a melhor das companhias - elas próprias”.
A Plural&Singular decidiu recuperar o excerto da reportagem sobre o concurso de fotografia que fala sobre este projeto. A PEÇA COMPLETA PODE SER LIDA A PARTIR DA PÁGINA 36 DA 17.ª EDIÇÃO DA PLURAL&SINGULAR
A Julieta é a protagonista da fotografia que recebeu o 1.º Prémio do concurso de fotografia. Amputada desde os cinco anos, devido a uma virose mal curada que levou à necrose dos tecidos das pernas e respetiva amputação, na fotografia, ela está sentada na escadaria principal da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Está sem as próteses que lhe permitem descer essas mesmas escadas. “O seu olhar contemplativo sobre as próteses retrata o sentimento existente relativamente a elas: de ódio por não poder dispensá-las, de necessidade por serem a razão que lhe permite locomover-se”, pode ler-se na memória descritiva da fotografia vencedora.
Mas embora a fotografia retrate a dependência que Julieta tem desses apêndices ortopédicos, quer, ao mesmo tempo, fazer pensar na dificuldade que teria em subir ou descer as escadas se não os usasse. “Sem as próteses, a Julieta não chegaria aonde chega”, refere a descrição da foto. E chegou longe, não desistiu, tem 30 anos, é médica e casou em julho deste ano. É feliz.
Nuno Pereira é fotógrafo profissional e o autor desta fotografia. Diz que a imagem também pretende provocar uma reflexão sobre “as acessibilidades deste país (ou falta delas)” e sobre “a luta que cada pessoa com deficiência trava para vencer os obstáculos”.
Para Nuno Pereira esta distinção representa uma oportunidade “de chamar a atenção para os problemas que os portadores de deficiência têm”. “E a nível pessoal é uma satisfação ver que alguém deu valor ao meu trabalho”, completa.
Nuno Pereira já tinha realizado um trabalho nesta área com paraplégicos e tetraplégicos, mas na hora de decidir que imagens enviar para o concurso de fotografia optou por este projeto mais recente por, nestes últimos anos, se ter “aprimorado” como fotógrafo, enquanto profissional numa faculdade de arte e design. “Os arquitetos e professores das belas artes à minha volta obrigaram-me a andar da perna e a envolver-me muito com a fotografia, a ler muito, aprender muito e a praticar muito. Portanto eu olhando para trás, para aquele projeto que fiz em 2009 digo que faria tudo de forma diferente e faria da maneira que fiz este: com mais qualidade a nível fotográfico, com outra visão e depois para não repetir o tema, tive a ideia de incluir pessoas que ninguém diz que tem algum tipo de limitação, mas que eu acho que têm”, explica. Refere-se a pessoas deprimidas, pessoas com doenças mentais, pessoas obesas. Quis desenvolver um projeto que englobasse todas estas questões, ainda está em curso, mas no âmbito dele vão resultar um conjunto de 10 ou 12 fotografias.
Tem 42 anos e é fotógrafo profissional. Vive da fotografia desde que, em 2002, “foi agraciado” por uma doença que se chama síndrome de Síndrome de Guillain–Barré. “É tal e qual igual à Esclerose Múltipla com a única diferença de que a Esclerose Múltipla vai piorando ao longo da vida e a minha doença paralisa completamente a pessoa em dois, três dias, mas tem um lado bom que é a pessoa pode recuperar”, esclarece Nuno Pereira.
Podem ficar sequelas e a recuperação é muito lenta: “A doença é muito rara, dá em média em uma a cada cem mil pessoas e só em 5% das pessoas é que a crise se repete e eu novamente voltei a ser agraciado com a doença: tive a primeira vez em 2002 e passados 10 anos, em 2012, voltei a ter. O ataque não foi tão forte, só tive seis meses no hospital porque da primeira vez estive dois anos. Eu fiquei com uma incapacidade de 80%. Tenho os pés paralisados e a cara um bocadinho paralisada”, descreve o fotógrafo vencedor.
Conseguiu libertar-se da cadeira de rodas e utiliza talos de massa em ambos os pés porque não “funcionam bem”, além do mais, tem falta de equilíbrio, apesar de conseguir andar bem sem muletas e sem bengala. A PEÇA COMPLETA PODE SER LIDA A PARTIR DA PÁGINA 36 DA 17.ª EDIÇÃO DA PLURAL&SINGULAR
Galeria de Imagens

Os portadores de bipolaridade têm como principal característica as variações repentinas de humor. Afectando uma larga fatia da população ( cerca de 1% ), a bipolaridade surge neste projecto como representação das várias doenças do foro psicológico que assolam a sociedade moderna. As limitações das pessoas com distúrbios mentais são por vezes maiores do que as dum deficiente físico: isolamento, faltas ao trabalho frequentes, menos participação na sociedade. A Ana, estudante de enfermagem, não tem bipolaridade, mas teve um professor no secundário que sim. Com variações de humor radicais e um comportamento inconstante, este professor marcou a vida dos seus alunos, ano após ano, até ao dia que decidiu pedir baixa. E a Ana nunca mais se esqueceu dele. Com essa pessoa na memória e uma sensibilidade particular no trato dos doentes com quem lida, prontamente se dispôs a dar a cara no projecto na representação deste tema.
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Os portadores de bipolaridade têm como principal característica as variações repentinas de humor. Afectando uma larga fatia da população ( cerca de 1% ), a bipolaridade surge neste projecto como representação das várias doenças do foro psicológico que assolam a sociedade moderna. As limitações das pessoas com distúrbios mentais são por vezes maiores do que as dum deficiente físico: isolamento, faltas ao trabalho frequentes, menos participação na sociedade. A Ana, estudante de enfermagem, não tem bipolaridade, mas teve um professor no secundário que sim. Com variações de humor radicais e um comportamento inconstante, este professor marcou a vida dos seus alunos, ano após ano, até ao dia que decidiu pedir baixa. E a Ana nunca mais se esqueceu dele. Com essa pessoa na memória e uma sensibilidade particular no trato dos doentes com quem lida, prontamente se dispôs a dar a cara no projecto na representação deste tema. Os portadores de bipolaridade têm como principal característica as variações repentinas de humor. Afectando uma larga fatia da população ( cerca de 1% ), a bipolaridade surge neste projecto como representação das várias doenças do foro psicológico que assolam a sociedade moderna. As limitações das pessoas com distúrbios mentais são por vezes maiores do que as dum deficiente físico: isolamento, faltas ao trabalho frequentes, menos participação na sociedade. A Ana, estudante de enfermagem, não tem bipolaridade, mas teve um professor no secundário que sim. Com variações de humor radicais e um comportamento inconstante, este professor marcou a vida dos seus alunos, ano após ano, até ao dia que decidiu pedir baixa. E a Ana nunca mais se esqueceu dele. Com essa pessoa na memória e uma sensibilidade particular no trato dos doentes com quem lida, prontamente se dispôs a dar a cara no projecto na representação deste tema.
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A modelo presente nesta foto chama-se Julieta. A Julieta é amputada de ambas as pernas devido a uma doença de nome "púrpura fulminante". Apesar de ser facil pensar que a sua vida seria restringida pela falta de locomoção ( a amputação aconteceu aos 5 anos ) a vida da Julieta sempre foi repleta de vitórias. Completou o percurso escolar com sucesso. Tirou o curso de medicina. Agora trabalha na sua àrea. Tem como hobby actividades inesperadas como escalada ou dança. Para completar a sua felicidade a Julieta casou em Julho deste ano. Se pudéssemos tomar como exemplo a vida de alguém que não se deixou vencer pelo infortúnio, talvez a Julieta seria o exemplo perfeito. A modelo presente nesta foto chama-se Julieta. A Julieta é amputada de ambas as pernas devido a uma doença de nome "púrpura fulminante". Apesar de ser facil pensar que a sua vida seria restringida pela falta de locomoção ( a amputação aconteceu aos 5 anos ) a vida da Julieta sempre foi repleta de vitórias. Completou o percurso escolar com sucesso. Tirou o curso de medicina. Agora trabalha na sua àrea. Tem como hobby actividades inesperadas como escalada ou dança. Para completar a sua felicidade a Julieta casou em Julho deste ano. Se pudéssemos tomar como exemplo a vida de alguém que não se deixou vencer pelo infortúnio, talvez a Julieta seria o exemplo perfeito.
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A Rita trabalhou durante 16 anos num restaurante famoso do Porto até que em 2003 a máquina de elevar pratos lhe amputou um membro. A isso seguiram-se 8 anos de renúncia: falta de aceitação do corpo e longos meses fechada em casa por dificuldade em enfrentar a imagem. Com o isolamento veio a depressão, com a depressão o sedentarismo e como resultado, a obesidade...conjunto de factores que culminou num ataque cardíaco em 2010. Foi nessa altura que a Rita decidiu reagir. Optou pela mudança. Fez um esforço por mostrar-se ao mundo. Saiu de casa, começou a dar caminhadas. Inscreveu-se como voluntária em entidades de apoio social para descobrir o benefício de servir os outros. Desde essa altura que perdeu 40 kgs. Arranjou namorado. Aprendeu a viver consigo mesma. No momento desta foto confessou nunca pensar vir a fazer um retrato expondo a sua amputação. Chorou, mas pediu-me uma fotografia para colocar no perfil do facebook. A atitude de aceitação da Rita foi inspiradora. E se este é um elemento transversal a todas as pessoas retratadas nestas fotos, será justo dizer que a Rita deu nome ao projecto. A cadelinha presente na imagem é a Jade, que sofreu uma amputação da pata direita por cancro ósseo, uma das principais causas de amputação de membros nos animais A Rita trabalhou durante 16 anos num restaurante famoso do Porto até que em 2003 a máquina de elevar pratos lhe amputou um membro. A isso seguiram-se 8 anos de renúncia: falta de aceitação do corpo e longos meses fechada em casa por dificuldade em enfrentar a imagem. Com o isolamento veio a depressão, com a depressão o sedentarismo e como resultado, a obesidade...conjunto de factores que culminou num ataque cardíaco em 2010. Foi nessa altura que a Rita decidiu reagir. Optou pela mudança. Fez um esforço por mostrar-se ao mundo. Saiu de casa, começou a dar caminhadas. Inscreveu-se como voluntária em entidades de apoio social para descobrir o benefício de servir os outros. Desde essa altura que perdeu 40 kgs. Arranjou namorado. Aprendeu a viver consigo mesma. No momento desta foto confessou nunca pensar vir a fazer um retrato expondo a sua amputação. Chorou, mas pediu-me uma fotografia para colocar no perfil do facebook. A atitude de aceitação da Rita foi inspiradora. E se este é um elemento transversal a todas as pessoas retratadas nestas fotos, será justo dizer que a Rita deu nome ao projecto. A cadelinha presente na imagem é a Jade, que sofreu uma amputação da pata direita por cancro ósseo, uma das principais causas de amputação de membros nos animais
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O Benjamim é um aficcionado das novas tecnologias. Não que ele siga as tendências do mercado compulsivamente - ele apenas gosta de observar a evolução das coisas para poder comparar os objectos ao longo do tempo. Desde criança que tem facilidade em aprender. Teve sempre boas notas na escola, fala 4 línguas latinas fluentemente e aventura-se com sucesso em idiomas complicados como o alemão, mandarim, russo e japonês. O Benjamim é um tocador de piano exímio. Mas, ao longo da vida percebeu ter alguma dificuldade em relacionar-se. Sempre lhe foi mais fácil conviver com o seu mundo interior do que com o mundo de fora. A certa altura, após alguma investigação da parte dos pais, foi-lhe diagnosticado Síndrome de Asperger - uma forma de autismo leve típica das pessoas de memória excepcional mas com dificuldade em sociabilizar. Isso não impediu o Benjamim de fazer um curso superior e de continuar a estudar por iniciativa própria. Mantém-se informado quanto a temas da actualidade e faz um esforço por se integrar nos grupos. O Benjamim queixa-se de não ter sentido de humor. Preocupa-se com o Futuro. Incomoda-se com a fugacidade do Presente, e procura raízes no Passado. Perturba-se demasiado com o desaparecimento de elementos da internet como sites ou blogs. Sofre quando perde informação que armazenou numa plataforma ou lhe desaparece um amigo virtual. Mas a verdade é que continua a ser uma óptima companhia quando está num grupo, virtualmente ou em pessoa. Talvez a dificuldade que sente nas relações não seja mais do que fruto da sua imaginação ( ou quem sabe, da imaginação do fotógrafo.) ( Um obrigado especial à Catarina por se ter disponibilizado a contracenar com o Benjamim. Que não seja a última vez que vista um vestido de noiva. ) O Benjamim é um aficcionado das novas tecnologias. Não que ele siga as tendências do mercado compulsivamente - ele apenas gosta de observar a evolução das coisas para poder comparar os objectos ao longo do tempo. Desde criança que tem facilidade em aprender. Teve sempre boas notas na escola, fala 4 línguas latinas fluentemente e aventura-se com sucesso em idiomas complicados como o alemão, mandarim, russo e japonês. O Benjamim é um tocador de piano exímio. Mas, ao longo da vida percebeu ter alguma dificuldade em relacionar-se. Sempre lhe foi mais fácil conviver com o seu mundo interior do que com o mundo de fora. A certa altura, após alguma investigação da parte dos pais, foi-lhe diagnosticado Síndrome de Asperger - uma forma de autismo leve típica das pessoas de memória excepcional mas com dificuldade em sociabilizar. Isso não impediu o Benjamim de fazer um curso superior e de continuar a estudar por iniciativa própria. Mantém-se informado quanto a temas da actualidade e faz um esforço por se integrar nos grupos. O Benjamim queixa-se de não ter sentido de humor. Preocupa-se com o Futuro. Incomoda-se com a fugacidade do Presente, e procura raízes no Passado. Perturba-se demasiado com o desaparecimento de elementos da internet como sites ou blogs. Sofre quando perde informação que armazenou numa plataforma ou lhe desaparece um amigo virtual. Mas a verdade é que continua a ser uma óptima companhia quando está num grupo, virtualmente ou em pessoa. Talvez a dificuldade que sente nas relações não seja mais do que fruto da sua imaginação ( ou quem sabe, da imaginação do fotógrafo.) ( Um obrigado especial à Catarina por se ter disponibilizado a contracenar com o Benjamim. Que não seja a última vez que vista um vestido de noiva. )
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Nesta foto a Julieta contracena com a Ana. A Ana é designer de interiores e professora de ballet nas horas vagas. Devido ao seu perfil elegante e expressividade é diversas vezes convidada para servir de manequim em trabalhos de moda. Mas os amigos mais chegados da Ana sabem que ela não gosta de tudo no seu corpo. Detalhes que apenas ela vê e sobrevaloriza. Pormenores que quase chegam ao limiar do complexo. Esta fotografia mostra bem a elegância da Ana, mas não a convencem a mudar de ideias. Na verdade ela não é a única modelo a ter problemas com o corpo. Quem trabalha no mundo da Moda sabe dos dilemas vividos pelas modelos, mesmo as profissionais. Não importa as medidas que tenham ou o quão famosas sejam, frequentemente estão descontentes com a sua imagem. Talvez isso nos faça pensar o quão a beleza é relativa e que o conceito de Perfeição só se atinge quando aprendemos a viver com o corpo que temos Nesta foto a Julieta contracena com a Ana. A Ana é designer de interiores e professora de ballet nas horas vagas. Devido ao seu perfil elegante e expressividade é diversas vezes convidada para servir de manequim em trabalhos de moda. Mas os amigos mais chegados da Ana sabem que ela não gosta de tudo no seu corpo. Detalhes que apenas ela vê e sobrevaloriza. Pormenores que quase chegam ao limiar do complexo. Esta fotografia mostra bem a elegância da Ana, mas não a convencem a mudar de ideias. Na verdade ela não é a única modelo a ter problemas com o corpo. Quem trabalha no mundo da Moda sabe dos dilemas vividos pelas modelos, mesmo as profissionais. Não importa as medidas que tenham ou o quão famosas sejam, frequentemente estão descontentes com a sua imagem. Talvez isso nos faça pensar o quão a beleza é relativa e que o conceito de Perfeição só se atinge quando aprendemos a viver com o corpo que temos
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Rimvy é um jovem da Lituânia que veio visitar a namorada a Portugal no seu período de Erasmus. Conheci o Rimvy numa viagem de grupo e rapidamente notei as suas dificuldades de visão. Através de conversa fiquei a saber que sofre de glaucoma, uma doença degenerativa que, se não tratada, pode levar à cegueira. Apesar de ainda ter um grau de visão considerável, este jovem falou-me das limitações que sente na vida devido a esta doença. Na escola ou ao arranjar trabalho. Disse que o seu desejo maior é poder recuperar a vista totalmente e que deposita a esperança numa cirurgia ocular que tem marcada no seu país. Esta foto retrata, de forma simbólica, a vontade expressa pelo Rimvy de recuperar, por qualquer meio, aquele que considera o seu maior bem. Rimvy é um jovem da Lituânia que veio visitar a namorada a Portugal no seu período de Erasmus. Conheci o Rimvy numa viagem de grupo e rapidamente notei as suas dificuldades de visão. Através de conversa fiquei a saber que sofre de glaucoma, uma doença degenerativa que, se não tratada, pode levar à cegueira. Apesar de ainda ter um grau de visão considerável, este jovem falou-me das limitações que sente na vida devido a esta doença. Na escola ou ao arranjar trabalho. Disse que o seu desejo maior é poder recuperar a vista totalmente e que deposita a esperança numa cirurgia ocular que tem marcada no seu país. Esta foto retrata, de forma simbólica, a vontade expressa pelo Rimvy de recuperar, por qualquer meio, aquele que considera o seu maior bem.
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A Sofia nasceu com paralisia cerebral. Por isso desde pequena que sentiu a sua vida depender de terceiros. A Sofia não consegue ser totalmente autónoma ( mora com a irmã, pois precisa de fazer as suas tarefas diárias com ajuda ) e as crises de falta de mobilidade levam-na a alterar com frequência a rotina do seu dia a dia. Está a terminar um mestrado em Design de Comunicação. Vive na cidade onde estuda. E conta sempre com os amigos que a rodeiam para a ajudar nas fases em que a doença se revela com mais força. Com a Sofia a fazer o papel de uma marionete, esta fotografia pretende retratar a dependência que os portadores de incapacidade física têm num país em que o Estado raramente cumpre com eficiência o suprimento das suas necessidades básicas. A Sofia nasceu com paralisia cerebral. Por isso desde pequena que sentiu a sua vida depender de terceiros. A Sofia não consegue ser totalmente autónoma ( mora com a irmã, pois precisa de fazer as suas tarefas diárias com ajuda ) e as crises de falta de mobilidade levam-na a alterar com frequência a rotina do seu dia a dia. Está a terminar um mestrado em Design de Comunicação. Vive na cidade onde estuda. E conta sempre com os amigos que a rodeiam para a ajudar nas fases em que a doença se revela com mais força. Com a Sofia a fazer o papel de uma marionete, esta fotografia pretende retratar a dependência que os portadores de incapacidade física têm num país em que o Estado raramente cumpre com eficiência o suprimento das suas necessidades básicas.
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Os portadores de nanismo ( vulgarmente chamados de anões ) são detentores duma fotogenia e plasticidade ímpares. Valendo-me disso, convidei o Bernardino a participar neste projecto. Procurando inspiração para o tema perguntei-lhe qual o seu maior medo. Ele rápidamente respondeu: a àgua. Por causa dum monitor de natação que o puxou para o fundo duma piscina sem contar, desde os 12 anos que não entra na água. De forma simbólica pedi-lhe que vencesse o trauma vestindo-se de marinheiro. Mas, ouvindo a história do Bernardino, fiquei a saber que mesmo não sendo ele um descobridor dos mares não deixa de ser um pioneiro: foi o primeiro anão em Portugal a ser submetido à polémica operação de extensão óssea, uma operação com pouca funcionalidade prática mas que acrescenta alguns centímetros ao indivíduo para o aproximar dos "padrões" da sociedade. O tamanho das cicatrizes nos braços e pernas do Bernardino não escondem as dores que passou na adolescência ( as cirurgias são feitas em diversas etapas da fase de crescimento ). Actualmente o Bernardino trabalha, vai ao ginásio, tem parte activa na sociedade. A sua produtividade está perfeitamente dentro dos valores dum cidadão normal. Pergunto-me se o tamanho da Pessoa que o Bernardino é alguma vez seria influenciado pelo tamanho da sua altura... Os portadores de nanismo ( vulgarmente chamados de anões ) são detentores duma fotogenia e plasticidade ímpares. Valendo-me disso, convidei o Bernardino a participar neste projecto. Procurando inspiração para o tema perguntei-lhe qual o seu maior medo. Ele rápidamente respondeu: a àgua. Por causa dum monitor de natação que o puxou para o fundo duma piscina sem contar, desde os 12 anos que não entra na água. De forma simbólica pedi-lhe que vencesse o trauma vestindo-se de marinheiro. Mas, ouvindo a história do Bernardino, fiquei a saber que mesmo não sendo ele um descobridor dos mares não deixa de ser um pioneiro: foi o primeiro anão em Portugal a ser submetido à polémica operação de extensão óssea, uma operação com pouca funcionalidade prática mas que acrescenta alguns centímetros ao indivíduo para o aproximar dos "padrões" da sociedade. O tamanho das cicatrizes nos braços e pernas do Bernardino não escondem as dores que passou na adolescência ( as cirurgias são feitas em diversas etapas da fase de crescimento ). Actualmente o Bernardino trabalha, vai ao ginásio, tem parte activa na sociedade. A sua produtividade está perfeitamente dentro dos valores dum cidadão normal. Pergunto-me se o tamanho da Pessoa que o Bernardino é alguma vez seria influenciado pelo tamanho da sua altura...
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A Elisabete tem 25 anos e desde pequena que tem problemas de peso. Não chegando a valores de obesidade mórbida, a Elisabete sempre teve peso acima do recomendado. Por isso, ao longo da vida teve de lutar contra alguns problemas de saúde relacionados com a obesidade e, sobretudo, contra o estigma da sociedade. Na escola primária ouviu os comentários cáusticos dos colegas de turma. Durante a juventude, as piadas típicas dirigidas a alguém que é gordo. Já tentou dietas que passado algum tempo regridem para o peso inicial. De momento sente-se bem consigo mesma, mas não esconde o desejo de poder vir a emagrecer. Depois desta foto ( em que se despiu literalmente de preconceitos e aceitou a sua fisionomia ) desafiei a Elisabete a iniciar uma dieta, dispondo-me a fazer uma fotografia cada 15 dias, esperando que o registo assíduo do corpo a motive a cumprir objectivos. Ela disse que sim, desde que depois de tirar a foto não fizesse alteração nenhuma em Photoshop. Concordei. Combinamos que até ao Natal ela tomaria uma decisão. Estendo o desafio a quem se disponibilizar a ajudar a Elisabete nesta caminhada. Alguém que se queira juntar a ela na perda de peso. Como fotógrafo, comprometo-me a fazer o registo da mudança corporal, esperando que a fotografia sirva como elemento de motivação no processo. A Elisabete tem 25 anos e desde pequena que tem problemas de peso. Não chegando a valores de obesidade mórbida, a Elisabete sempre teve peso acima do recomendado. Por isso, ao longo da vida teve de lutar contra alguns problemas de saúde relacionados com a obesidade e, sobretudo, contra o estigma da sociedade. Na escola primária ouviu os comentários cáusticos dos colegas de turma. Durante a juventude, as piadas típicas dirigidas a alguém que é gordo. Já tentou dietas que passado algum tempo regridem para o peso inicial. De momento sente-se bem consigo mesma, mas não esconde o desejo de poder vir a emagrecer. Depois desta foto ( em que se despiu literalmente de preconceitos e aceitou a sua fisionomia ) desafiei a Elisabete a iniciar uma dieta, dispondo-me a fazer uma fotografia cada 15 dias, esperando que o registo assíduo do corpo a motive a cumprir objectivos. Ela disse que sim, desde que depois de tirar a foto não fizesse alteração nenhuma em Photoshop. Concordei. Combinamos que até ao Natal ela tomaria uma decisão. Estendo o desafio a quem se disponibilizar a ajudar a Elisabete nesta caminhada. Alguém que se queira juntar a ela na perda de peso. Como fotógrafo, comprometo-me a fazer o registo da mudança corporal, esperando que a fotografia sirva como elemento de motivação no processo.
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O António nunca foi músico. Não porque lhe faltasse vontade, mas porque cedo sofreu um percalço na vida: aos 10 anos perdeu parte da mão direita devido ao rebentamento dum foguete com que brincava. Por isso, na impossibilidade de tocar um instrumento, o António dedicou-se à escrita. Tem um blogue onde publica regularmente poesias e textos da sua autoria. O António sonha e a inspiração chega longe. Há cerca de 2 anos, juntamente com a sua esposa Paula Cristina, decidiu criar uma associação que tivesse como objectivo reunir e apoiar pessoas amputadas. Daí nasceu a ANAMP, um organismo com sede em Gaia que tem marcado a diferença pela qualidade do apoio prestado e pela agenda repleta de actividades: caminhadas, viagens, dança...a ANAMP faz de tudo para levar as pessoas a sair de casa. Um dos maiores eventos conseguidos pelo António e pela Paula foi o desfile inclusivo levado a cabo no passado dia 3 de Dezembro, nas caves Ferreirinha em Gaia. Neste dia a ANAMP juntou os seus associados para encher a passerelle com pessoas portadoras de deficiência. Pessoas ditas "fora" dos padrões convencionais que mostraram em nada estar atrás dos modelos profissionais. Um acontecimento emotivo, de particularidade única. Um bem-haja ao António e à Paula pelo trabalho que desenvolvem. ( Os interessados podem entrar no site da ANAMP para pesquisar esse desfile e outras actividades que a associação promove: www.anamp.pt ) O António nunca foi músico. Não porque lhe faltasse vontade, mas porque cedo sofreu um percalço na vida: aos 10 anos perdeu parte da mão direita devido ao rebentamento dum foguete com que brincava. Por isso, na impossibilidade de tocar um instrumento, o António dedicou-se à escrita. Tem um blogue onde publica regularmente poesias e textos da sua autoria. O António sonha e a inspiração chega longe. Há cerca de 2 anos, juntamente com a sua esposa Paula Cristina, decidiu criar uma associação que tivesse como objectivo reunir e apoiar pessoas amputadas. Daí nasceu a ANAMP, um organismo com sede em Gaia que tem marcado a diferença pela qualidade do apoio prestado e pela agenda repleta de actividades: caminhadas, viagens, dança...a ANAMP faz de tudo para levar as pessoas a sair de casa. Um dos maiores eventos conseguidos pelo António e pela Paula foi o desfile inclusivo levado a cabo no passado dia 3 de Dezembro, nas caves Ferreirinha em Gaia. Neste dia a ANAMP juntou os seus associados para encher a passerelle com pessoas portadoras de deficiência. Pessoas ditas "fora" dos padrões convencionais que mostraram em nada estar atrás dos modelos profissionais. Um acontecimento emotivo, de particularidade única. Um bem-haja ao António e à Paula pelo trabalho que desenvolvem. ( Os interessados podem entrar no site da ANAMP para pesquisar esse desfile e outras actividades que a associação promove: www.anamp.pt )
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A Eduarda é uma sobrevivente de cancro. Em 2003 teve um linfoma agressivo que a fez passar por todos os processos típicos de recuperação: quimioterapia, radioterapia e transplante de medula. Na altura da queda do cabelo comprou uma peruca para esconder a calvície. Mas ao sentir a artificialidade do cabelo ( a Eduarda é cabeleireira de profissão ) rapou a cabeça, meteu a peruca na gaveta e preferiu o turbante. Neste projecto desafiei a Eduarda a encarar a peruca. Ela concordou. Tirou-a da gaveta passados 13 anos. Sacudiu-lhe o pó e enfrentou-a com o olhar. Depois da fotografia feita, a Eduarda confessou que o momento a fez retroceder no tempo. Que viu o cabelo cair no chão. Que recordou o cheiro do quarto do IPO. Que o instante a fez valorizar o seu percurso, pois passada mais de uma década, o câncer continua a ser para ela uma batalha ganha. ( De 2003 até agora a Eduarda perdeu o pai e a mãe, também vítimas de cancro. ) A Eduarda é uma sobrevivente de cancro. Em 2003 teve um linfoma agressivo que a fez passar por todos os processos típicos de recuperação: quimioterapia, radioterapia e transplante de medula. Na altura da queda do cabelo comprou uma peruca para esconder a calvície. Mas ao sentir a artificialidade do cabelo ( a Eduarda é cabeleireira de profissão ) rapou a cabeça, meteu a peruca na gaveta e preferiu o turbante. Neste projecto desafiei a Eduarda a encarar a peruca. Ela concordou. Tirou-a da gaveta passados 13 anos. Sacudiu-lhe o pó e enfrentou-a com o olhar. Depois da fotografia feita, a Eduarda confessou que o momento a fez retroceder no tempo. Que viu o cabelo cair no chão. Que recordou o cheiro do quarto do IPO. Que o instante a fez valorizar o seu percurso, pois passada mais de uma década, o câncer continua a ser para ela uma batalha ganha. ( De 2003 até agora a Eduarda perdeu o pai e a mãe, também vítimas de cancro. )
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O Tiago e o César são amigos de infância. Portadores de Síndrome de Down, jamais viram a sua vida limitada por causa desta alteração congénita. Fizeram o percurso de escola normal, arranjaram emprego. Fazem desporto, têm os seus hobbies regulares. O Tiago adora ser fotografado. Depois de fazer a foto para o projecto pediu-me uma sessão completa, em que se revelou um verdadeiro modelo. A seguir perguntou-me nome de agências para se inscrever com o amigo. O Tiago e o César têm uma cumplicidade de irmãos. Tentei captar a felicidade que ambos irradiam, representando esta foto um dos momentos mais alegres do projecto. Vale a pena sonhar e deixar-se inspirar por gente como o Tiago e o César. O Tiago e o César são amigos de infância. Portadores de Síndrome de Down, jamais viram a sua vida limitada por causa desta alteração congénita. Fizeram o percurso de escola normal, arranjaram emprego. Fazem desporto, têm os seus hobbies regulares. O Tiago adora ser fotografado. Depois de fazer a foto para o projecto pediu-me uma sessão completa, em que se revelou um verdadeiro modelo. A seguir perguntou-me nome de agências para se inscrever com o amigo. O Tiago e o César têm uma cumplicidade de irmãos. Tentei captar a felicidade que ambos irradiam, representando esta foto um dos momentos mais alegres do projecto. Vale a pena sonhar e deixar-se inspirar por gente como o Tiago e o César.