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Dar nova vida aos livros

Hoje celebra-se o Dia Mundial do Braille… A propósito desta data a Plural&Singular recorda e recomenda o trabalho “Dar nova vida aos livros” publicado na 10.ª edição da revista digital trimestral (março/abril/maio de 2015) 

A sensação de folhear um livro e o cheiro das páginas às vezes gastas e amarrotadas são apelos aos sentidos de quem gosta de literatura num mundo enorme de outras solicitações sensoriais como “ouvir” um conto, uma biografia, um romance… Porque há muitas pessoas que procuram livros em papel, mas também quem não os possa ler para além do toque de dedos, em Gaia existe um serviço que disponibiliza obras em Braille, áudio e digital

Texto: Paula Fernandes Teixeira

Fotos: Gentilmente cedidas 

 

O Serviço de Leitura Especial da Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia abriu em 1998 mas só em 2006, depois de uma candidatura bem sucedida a fundos, conseguiu apostar num estúdio de gravação, onde voluntários dão vida aos livros.

“O nosso objetivo é levar a leitura a quem precisa dela. Quem precisa deste trabalho não é quem tem tudo. Há muitas pessoas com deficiência visual que não têm acesso a livros e a leitura pode ser estudo, companhia, terapia”, indicou a coordenadora, Susana Vale, uma das três funcionárias deste serviço que já chegou a quase um milhar de pessoas um pouco por todo mundo.

Além de pessoas com deficiência visual, as vozes que fazem narradores e personagens saltar da tinta, podem ser úteis para idosos ou pessoas sujeitas a tratamentos longos e regulares, como doentes renais em fase de hemodiálise.

“Estamos a falar de uma população que na sua grande parte não têm atividade profissional pois perderam a visão numa idade em que não conseguiram retomar a profissão que tinham. Casos de reformas muito baixas. O serviço tem muitos utilizadores que cegaram por causa da diabetes e depois têm de se reformar antecipadamente”, apontou a coordenadora.

 

Os vários formatos e a importância do voluntariado

Estamos perante, portanto, uma espécie de “missão” que só pode ser ampliada se cada vez mais voluntários aderirem à “causa”. Atualmente são cerca de vinte as pessoas que “emprestam” tempo a dar nova vida aos livros. E estão algumas dezenas em fase de entrevista

O Serviço de Leitura Especial da biblioteca de Gaia possui cerca de 1.400 obras em Braille e mais de 3.000 em suporte áudio (analógico e CD) que podem ser requisitadas gratuitamente por 30 dias. O envio é feito por CTT, através de um serviço isento de taxas.

Para além de Portugal, somam-se utilizadores de pequenos núcleos em França, Itália e Brasil e solicitações de escolas, que procuram obras do Plano Nacional de Leitura, bem como de instituições, nomeadamente delegações da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO).

“É estimulante fazer este trabalho. Estamos à volta de livros e levamo-los a quem não pode ler. Acaba por ser muito gratificante”, descreveu Iolanda Almeida, técnica superior que com Susana Vale e o técnico de informática responsável pela produção áudio-digital, José Luís Soares, completa a equipa do Serviço de Leitura Especial desta biblioteca nortenha.

A juntar à produção em Braille e aos áudio-livros, também são produzidos livros-digitais. Na prática o livro é digitalizado como se fossem tiradas múltiplas fotografias à obra, as imagens são convertidas e trabalhadas num processador de texto para serem retiradas todas as anomalias que possam ter ficado na digitalização, os “lixinhos” como descreveu Susana Vale, e após o processo de reconhecimento de carateres, o livro passa a poder ser “ouvido” com recurso a programas que lêem em computador.

Quanto ao voluntário que se transforma numa espécie de locutor, a este não chega ter boa vontade. Tudo tem de ser ponderado. O locutor pode condicionar a opinião do leitor sobre aquele livro.

Recentemente um utilizador pediu ao serviço de Gaia apenas isto: “Mande-me um livro daquele moço”. Não especificou a obra, nem o autor, queria a voz “daquele moço” que na circunstância era Francisco Ferraz, de 32 anos, que trabalha numa junta de freguesia e numa empresa imobiliária, e “oferece” cerca de hora e meia a duas horas por semana a esta “missão”. 

Gosta de ler, gosta de teatro, recusa a ideia de que tem uma vocação “especial” mas concorda que é necessária “alguma sensibilidade”.

“Quando alguém nos conta uma história é sempre mais cativante e interessante quando a voz não é monocórdica. A leitura é quanto melhor ser escutada, quanto mais expressiva é a voz que flui em nós”, descreveu o voluntário, cuja obra que mais gostou de dar voz foi a aventura/fantasia de Yann Martel, “A vida de Pi”.

O feebback dos “leitores-ouvintes” é dado aos voluntários, contou Susana Vale, por considerar que “é fundamental que este saibam e sintam que o tempo que estão a dar aos outros está a ser bem empregue e aproveitado”.

 

Inexistência de uma rede nacional

Sobre o Braille, Susana Vale lamenta que, a nível nacional, “a oferta não seja atual e diversificada quanto deveria ser”.

Quanto aos áudio-livros e ao suporte digital, a responsável acredita que o panorama “tem vindo a melhorar”, embora vinque que “continua a haver desfasamento entre aquilo que é editado para a população sem qualquer problema de visão e para quem tem deficiência visual”.

O Serviço de Leitura Especial de Gaia procura colaborar com outras bibliotecas, faltando, no entanto, lamentou, Susana Vale, uma rede nacional que indique que obras existem e onde.

“Ao duplicar livros, estamos a desperdiçar meios”, disse a coordenadora para quem “não é importante ver quem é que produz mais ou menos”, mas sim “rentabilizar recursos”. “Isto não é uma competição, muito pelo contrário”, completou.

A tal rede nacional ou base de dados, como se queira chamar, poderia ser iniciada pela Biblioteca Nacional, defendeu Susana Vale que sobre o serviço de Gaia explicou que o que o distingue de outros é a abrangência e o facto de produzir em vários suportes.

Mas enquanto se espera que esta realidade se materialize e a base de dados de livros em Braille, de áudio-livros e livros-digitais seja de âmbito nacional, o Serviço de Leitura Especial de Gaia vai continuando a fazer o mesmo trabalho que tem feito até agora: dar nova vida aos livros e contribuir para que a leitura seja, cada vez mais, inclusiva. Ler mais a partir da página 86

 

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