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A Intervenção da Fisioterapia e da Terapia da Fala na Doença de Parkinson (DP)

Comemora-se hoje, dia 11 de Abril, o Dia Mundial da Doença de Parkinson, patologia descrita pela primeira vez em 1817 pelo médico inglês James Parkinson (FAHN, 2003).

A Doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva (KEUS et al.,2013), não contagiosa nem hereditária (SEELEY, 2007). Em 1871, os núcleos da base foram reconhecidos por Meynert como tendo envolvimento no controlo das funções motoras e associou a lesão destes à DP (FAHN, 2003).

Mais tarde, em 1895, Brissaud sugeriu que fosse as alterações da substância negra (um dos núcleos da base) as responsáveis pela DP (FAHN, 2003). Hoje sabe-se que a DP é caracterizada pela perda de neurónios dopaminérgicos da substância negra, responsáveis pelos principais sintomas clínicos, incluindo o tremor, rigidez muscular, discinesia, distonia, bradicinesia, dificuldade no iniciar o movimento, alterações na marcha e equilíbrio, sendo este quadro clínico insidioso e de deterioração progressiva (CARDOSO, 2013, KWAKKEL et al., 2007). Ler mais

 A doença de Parkinson afecta cerca de 1% da população com mais de 60 anos, a nível mundial (CARDOSO, 2013), cerca de 1,2 milhões de pessoas na Europa e 20-25 mil em Portugal (DOMINGOS, 2001), sendo considerada a segunda doença neurodegenerativa mais comum, depois do Alzheimer (KEUS et al., 2013). A incidência é aproximadamente 1,5 vezes maior no homem e a prevalência é crescente com a idade (1,4% aos 60 anos e 4,3% aos 85 anos), sendo a maioria dos diagnósticos ocorre na faixa etário dos 60 anos (KEUS et al., 2013). 

É do conhecimento comum que a reabilitação de doentes com Parkinson deverá ser personalizada, indo ao encontro das necessidades do utente e de acordo com o estadio da doença, envolvendo os familiares/cuidadores e desenvolvida por uma equipa multi e interdisciplinar (KEUS et al., 2013). Pretende-se ainda que seja orientada, de acordo com a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF), para potenciar/preservar a funcionalidade, o desempenho nas actividades, a participação na vida social e, consequentemente, aumentar a qualidade de vida deste utentes (DOMINGOS, 2001, KEUS et al., 2013). 

A neuro-reabilitação na doença de Parkinson está ainda subdesenvolvida comparativamente a outras áreas de intervenção da Fisioterapia e da Terapia da Fala, sendo por isso um desafio para os utentes e profissionais de saúde. Estas terapias visam complementar o tratamento farmacológico ou neurocirúrgico, cuja evidência demonstra melhoria numa fase inicial da DP, mas que não controlam na totalidade a deterioração das funções corporais, principalmente a marcha e a fala (KEUS et al., 2013, MONTGOMERY et al., 2004, KWAKKEL et al., 2007).

A intervenção em fisioterapia tem como principais objectivos melhorar o padrão de marcha, o equilíbrio, a coordenação motora, as transferências de carga, a postura, a função do membro superior, a função cardiorrespiratória, promover a aquisição de estratégias compensatórias, diminuir a dor neuropática e promover a educação do utente para a DP. Com isto, permitirá aos doentes de Parkinson obter maior controlo postural, confiança na marcha e no equilíbrio, diminuir o risco de queda, prevenir complicações associadas à inactividade, melhorar/manter a capacidade física, diminuir as limitações funcionais, prevenir complicações secundárias à DP, promover a independência e o aumento da qualidade de vida (DOMINGOS, 2001, KEUS et al., 2013). 

Relativamente à intervenção da terapia da fala na DP, esta visa restabelecer as funções da fala, como por exemplo a disfonia e disartria, que ocorrem da combinação da rigidez muscular e bradicinesia associadas ao prejuízo no processamento sensorial e cognitivo. Estas modificações em conjunto resultam num tipo particular de alteração denominada disartria hipocinética, que se caracteriza por movimentos lentos, fracos, imprecisos ou incoordenados da musculatura envolvida na produção de fala, devido a alterações na execução motora (DWORKIN, 1991) 

Azevedo (2003) refere que 90% das pessoas com DP podem apresentar alterações de fala com alterações ao nível da ressonância (devido ao mau encerramento velo-faríngeo, diminuição da abertura da boca e falta de pressão intraoral), da respiração (em decorrência da reduzida movimentação da caixa torácica, apresentando uma diminuição da intensidade vocal, emissão de frases curtas, velocidade de fala variada e interrupções abruptas), da voz (monotonia vocal, hipofonia, rouquidão e soprosidade, devido à fenda antero-posterior das pregas vocais e hiperfunção supraglótica) e da articulação (discurso disfluente com consonantes imprecisas). 

A reabilitação da Terapia da Fala tradicional envolve diferentes técnicas e procedimentos para a coordenação das estruturas na articulação, voz, deglutição e respiração. Para a articulação realizam-se exercícios de inteligibilidade, de colocação fonética, de exagero nas consoantes e de contraste mínimo. No que diz respeito à respiração o objetivo é diminuir o débito de fala e melhorar a coordenação pneumofonoarticulatória (DWORKIN, 1991). Relativamente à deglutição existem as manobras de mudanças posturais e modificações nas propriedades do alimento – volume e consistência, entre outras técnicas. A eletroestimulação neuromuscular é um método bastante recente e complementando à Terapia Tradicional, usado na DP para reabilitação da disfagia orofaríngea (BAIJENS et al., 2012). Esta é considerada uma técnica não invasiva, aplicada através de elétrodos na superfície laríngea (TAVARES et al., 2010). 

O Método Lee Silverman Voice Treatment (LSVT), é um método de tratamento desenvolvido para a reabilitação da fala na DP e é aplicado por Terapeutas da Fala certificados internacionalmente e devidamente treinados. Neste é realizada uma sequência de exercícios de modo a automatizar o uso da voz em forte intensidade a partir da aprendizagem motora, do estímulo e da motivação (DIAS, 2011). O tratamento promove melhoria da adução das pregas vocais e do suporte respiratório que aumentam a intensidade vocal. Aumentando o esforço muscular para falar mais forte, podem transpor a barreira da rigidez e da bradicinésia e melhorar o funcionamento da musculatura envolvida não apenas da voz, mas também da articulação, prosódia, respiração e ressonância (DIAS, 2011). 

A intervenção da Fisioterapia e da Terapia da Fala tem o fim único de potenciar ou conservar as capacidades funcionais do indivíduo com DP ao longo da sua vida e da progressão da doença, sendo por isto fulcral a integração destes indivíduos num programa de reabilitação específico, um acompanhamento permanente numa perspectiva holística do indivíduo.

 

Por Andreia Rocha – Fisioterapeuta (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.) | Marta Silva – Terapeuta da Fala (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.) | Beatriz Ornelas – Estudante de Terapia da Fala (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.) | Sílvia Inácio – Estudante de Fisioterapia (Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.) 

 

Azevedo, L. L., Cardoso, F., & Reis, C. (2003). Comparação com controles normais, 61(4), 999–1003.

Baijens, L. W. J., Speyer, R., Passos, V. L., Pilz, W., Roodenburg, N., & Clavé, P. (2012).

The effect of surface electrical stimulation on swallowing in dysphagic Parkinson patients. Dysphagia, 27(4), 528–37. doi:10.1007/s00455-011-9387-4

Cardoso, S. (2013). Disfunção Mitocondrial explica doença. Revista Da Associação Portuguesa de Donetes de Parkinson, 31.

Dias, A. E., Chien, H. F., & Barbosa, E. R. (2011). O método Lee Silverman para reabilitação da fala na doença de Parkinson, 19(3), 551–557.

Domingos, J. (2001). Especialização em Fisioterapia na Doença de P ar kinsonı: “ O caminho das pedr as ” Par arkinson pedras ”, 4, 60–68.

Dworkin, J. (1991). Motor Speech Disorders. A Treatmente Guide.

Fahn, S. (2003). Description of Parkinson ’ s Disease as a, 14, 1–14.

Keus, S., Munneke, M., Graziano, M., Paltamaa, J., Pelosin, E., Domingos, J., Prins, J. (2013). European Physiotherapy Guideline for Parkinson ’ s Disease Web based Feedback Formı:

Kwakkel, G., Goede, C. J. T. De, & Wegen, E. E. H. Van. (2007). Impact of physical therapy for Parkinson ’ s diseaseı: A critical review of the literature, 13, 478–487.

Montgomery, E. B. (2004). Rehabilitative approaches to Parkinson’s disease. Parkinsonism and Related Disorders, 10(SUPPL. 1), S43–7. doi:10.1016/j.parkreldis.2004.02.004

Seeley Rod, Trent Stephens, P. T. (2007). Anatomia e Fisiologia (6th ed., p. 496). Lusociência.

Tavares, B., Guimarães, D. L., Furkim, A. M., & Gonçalves, R. (2010). oropharyngeal dysphagia Eletroestimulação neuromuscular na reabilitação da disfagia orofaríngea, 15(22), 615–621.