3.3.2. O desejo, a excitação e o orgasmo
.Fase do Desejo
O desejo sexual carateriza uma das fases de resposta sexual usualmente associada a um estado psicológico ou subjetivo responsável pela motivação face a comportamentos de índole sexual.
Kaplan (1979, citado por López e Fuertes, 1999) refere que o desejo sexual é um estímulo ou impulso produzido pela ativação de um sistema neuronal específico no cérebro.
O desejo sexual é “uma energia psicobiológica que antecede e acompanha a resposta da excitação sexual e tende a produzir comportamentos sexuais" (Leveni, 1988).
Habitualmente, o desejo é provocado por estímulos sensoriais, como sejam ver alguém que nos atrai, ouvir a voz dessa pessoa ou sentir o seu cheiro. O desejo provoca alterações psicológicas e também fisiológicas.
O desejo sexual é constituído por três componentes: impulso sexual, motivação sexual e vontade sexual.
O impulso sexual é moderado pela resposta neuroendócrina caraterizada, sobretudo, pelo papel que a testosterona desempenha na sua ativação, resultando uma resposta de excitação fisiológica pautada pela tumescência peniana ou lubrificação vaginal, fantasias eróticas, procura de atividade sexual e perceção dirigida a atributos sexuais atrativos para o indivíduo, manifestando-se num interesse sexual endógeno e espontâneo.
Ao nível fisiológico, o impulso sexual é experimentado como uma tensão psicossomática que necessita de ser descarregada, enquanto ao nível psicológico essa tensão pode ou não ser experimentada como sexual.
Por outro lado, a motivação sexual implica uma componente psicológica mediada pelo estado mental do indivíduo (ex. presença de afeto positivo ou negativo) ou a qualidade da relação (conjugal ou não), sobressaindo, neste caso, fatores relacionados com a demonstração de afeto e consenso interpessoais.
A vontade sexual refere-se à componente contextual regrada pelas normas e valores culturais, e as quais o sujeito professa (assumindo assim um caráter mais exteriorizado relativamente à motivação sexual).
.Fase da Excitação
Como consequência da estimulação sexual (física, psíquica ou ambas) desencadeia-se a excitação sexual, evidenciada fisiologicamente pela vasocongestão que se produz, nomeadamente na área genital (López e Fuertes, 1999).
A vasocongestão leva a uma acumulação do sangue nos vasos sanguíneos dos órgãos genitais, a qual provoca alterações diferentes no homem e na mulher.
À medida que a estimulação sexual aumenta, aumenta também a excitação e surgem outras respostas físicas, tais como:
• Aumento progressivo da tensão muscular;
• Aumento do ritmo cardíaco;
• Pressão sanguíneo;
• Ereção dos mamilos.
Nas mulheres:
O primeiro sinal de excitação sexual provocado pela vasocongestão das paredes vaginais é o surgimento de um transudado que humedece a parte interna da vagina, designando-se por lubrificação vaginal. No conjunto, a vasocongestão das paredes vaginais na zona genital desencadeada pela excitação sexual é responsável por alterações fisiológicas nas mulheres:
• Lubrificação vaginal - transudado que humedece a parte interna da vagina, necessária para a penetração, assim como para os movimentos do pénis no interior da vagina, a fim de não causarem desconforto ou dor.
• Os grandes lábios separam-se da sua linha média, elevando-se e tornando-se ligeiramente mais planos, o que permite que a entrada da vagina fique livre.
• Os pequenos lábios engrossam.
• O clítoris aumenta de tamanho.
• O útero é empurrado ligeiramente para cima.
• Há um entumescimento e um ligeiro aumento do tamanho geral das mamas.
À medida que a excitação sexual atinge os seus níveis mais elevados, a vasocongestão aumenta, e produz-se um aumento de volume do terço externo da vagina, fenómeno este que se designa por formação da plataforma orgástica.
Nos homens:
O primeiro sinal da excitação sexual é a ereção do pénis que resulta de um maior e mais rápido de afluxo de sangue que chega aos espaços livres dos corpos cavernosos e esponjosos provocando a tumescência do pénis. À medida que a estimulação aumenta, o homem sente-se mais excitado, respira de um modo ofegante e pode sentir-se tenso e transpirado.
Para além da ereção peniana, verifica-se:
• A pele das bolsas escrotais alisa-se.
• Os testículos começam a elevar-se e aumentar ligeiramente de tamanho.
• Em níveis elevados de excitação sexual, produz-se um ligeiro aumento da glande e um maior aumento dos testículos.
Nos momentos de maior excitação sexual podem surgir pequenas gotas de fluido (liquido pré-ejaculatório) segregado pelas glândulas de Cowper que saem para o exterior, que frequentemente transportam espermatozoides vivos. Daí que a prática do coito interrompido seja um método contracetivo pouco eficaz na prevenção de uma gravidez, assim como do contágio das infeções sexualmente transmissíveis.
.Fase do Orgasmo
O orgasmo é uma sensação intensa de prazer que é acompanhada de uma série de reações fisiológicas e que ocorre, normalmente, como o culminar de uma experiência sexual (ex. relação sexual, masturbação, fantasias sexuais).
Ainda que em linguagem corrente clímax e orgasmo sejam considerados como sinónimos, na realidade existe diferença. O clímax é apenas uma parte do orgasmo que, por sua vez, é caraterizado por diversas outras reações fisiológicas e psicológicas de prazer. Ou seja, o clímax limita-se às sensações de descarga genital e é localizado apenas na zona pélvica, enquanto o orgasmo é uma reação que se alastra a todo o corpo e que provoca contrações musculares e sensações de prazer em todo o corpo.
Do ponto de vista fisiológico, durante o orgasmo, dá-se um aumento do ritmo da respiração e dos batimentos cardíacos e ocorrem contrações rítmicas dos músculos da zona pélvica.
No homem, o pénis aumenta ainda um pouco mais de tamanho devido à intensificação do fluxo sanguíneo, enquanto a próstata, as vesículas seminais e a parte superior dos vasos deferentes se contraem de forma a provocar a ejaculação, ou seja, a emissão de esperma.
Na maioria das vezes, o orgasmo e a ejaculação ocorrerem em simultâneo, mas são acontecimentos distintos. Por exemplo, o homem pode atingir o orgasmo e não ejacular.
Durante esta fase, na mulher ocorrem alterações fisiológicas como um conjunto de contrações rítmicas dos músculos que rodeiam a vagina, a plataforma orgástica e o útero.
Algumas mulheres também podem ser multiorgásticas, isto é, podem sentir vários orgasmos sucessivos sem que diminua o seu nível de excitação sexual. Todavia, esta capacidade é muito variável e um grande número de mulheres nunca obteve orgasmos múltiplos.
É a fase mais curta, mas também é a mais intensa de todas as fases do ciclo de resposta sexual.
Naturalmente, que o orgasmo é muito mais do que apenas uma reação fisiológica e corporal. Proporciona sensações de prazer, sensações estas que são vividas pelas diferentes pessoas de diferentes formas.
.Fase de resolução
Durante esta fase, todas as alterações ocorridas na fase de excitação iniciam um processo de inversão, recuperando o seu estado de repouso anterior à excitação.
Nos homens, ocorre a diminuição progressiva da ereção, até ao ponto em que o pénis atinge o estado de repouso complexo (estado de flacidez). Os testículos, que durante a fase de excitação e orgasmo se retraíram, vão também regressar ao seu estado original. No homem, ocorre o período que Masters e Johnson designaram como período refratário.
Na mulher, a tumescência do clítoris, lábios vaginais e vagina começa a desaparecer logo após o orgasmo, mas demora algum tempo até ficar completa.
Na mulher, o potencial orgásmico não está limitado por um período refratário, como no homem, ou seja, se uma mulher for submetida a novas carícias, novos estímulos, ela poderá estar em condições físicas de ter novamente um orgasmo.
Quer no homem quer na mulher, repõem-se os níveis habituais de respiração, batimento cardíaco e contração muscular que se alteraram durantes as fases anteriores do ciclo de resposta sexual.
A qualidade da vida sexual de mulheres e homens está relacionada com a forma como o seu corpo responde a estímulos. Contudo, os fatores que intervêm na resposta são vários e estão muito interligados, sendo determinantes para perceber as causas das disfunções e dificuldades sexuais femininas e masculinas.